quinta-feira, 20 de junho de 2013

O transformar das chuvas

Muitas gotas da chuva carregam mais do que se pode ver, levando consigo lembranças, recordações que já não nos pertencem mais, que vão chegando ao solo para alimentar novas sementes, ao mesmo tempo em que as nuvens vão levemente se desmanchando para deixar o sol, a lua ou as estrelas retomarem os céus.
Só que por vezes as almas que são molhadas parecem não mais frutificar, como se os solos em que se enraizaram já não trouxessem mais as vivências que dão os tons para cada nuance de lembrança, como que deixando claro que novas chuvas são necessárias para carregar com elas o que ainda reside na mente...
E deste ponto em diante tudo fica mais claro quando já não existem mais nuvens em nossa mente, levando-nos ao ponto alto que nos deixa mais livres para seguir, mesmo que por muitas vezes existam caminhos onde montanhas altas ainda reservem para nós as nuvens escuras que nos revelam águas tão límpidas que, quando tocam nossa alma, nos deixam próximos à pureza que um dia já carregamos conosco...
Mas com tudo isso também tomamos para nós as questões que já encontraram suas respostas, incorporando-as de tal maneira que passam a ser parte de quem somos, do nosso ser diário, servindo como lições que jamais iremos esquecer ou que podem apontar para um rumo diferente, permeado por escolhas que talvez não pensássemos em fazer ou que farão com que certas sementes não sejam jogadas mais ao solo por termos definitivamente aprendido a viver sem aquilo que nos prendeu um dia.
E aí começamos a observar mais atentamente àquilo que nos cerca, que nos acompanha por longas trajetórias ou pela vida, assim como nossos laços com as chuvas podem ser fortificados quando compreendemos que por certas vezes nós é que deixamos as lágrimas se tornarem as chuvas que alcançam os solos e desanuviam os olhos para enxergarmos com maior clareza.
Talvez assim possamos compreender melhor como cada gota da chuva se torna mais importante quando precisamos, alcançando-nos quando temos que deixar a alma se encharcar, para que nos rios e mares dos dias tudo se transforme em algo maior...

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